sábado, 6 de outubro de 2007

BP UOL: "A coisa que mais nos torna estúpidos é a ignorância consciente", diz Paula Picarelli


BP UOL: "A coisa que mais nos torna estúpidos é a ignorância consciente", diz Paula Picarelli
Da redação

A atriz e apresentadora do programa "Entrelinhas", TV Cultura, Paula Picarelli esteve no Bate-papo com Convidados UOL desta quinta-feira (4) e desabafou: "Muita coisa nos torna estúpidos. Mas a 'ignorância consciente', aquela de não estar nem aí para o que está acontecendo, é a pior coisa; é como dar carta branca para tudo isso".Em um papo que contou tanto com temas espinhosos como política, homossexualidade, reciclagem e ecologia, quanto com assuntos descontraídos como literatura, televisão e teatro, Paula afirmou também que não gostaria de ser presidente do país pois "quem está lá envelhece e a pressão deve ser enorme".Na conversa com os internautas, intermediada pelo jornalista Marcelo Tas, a atriz deu ainda detalhes sobre a produção e adaptação da peça "Como me Tornei Estúpido", em cartaz em São Paulo. O espetáculo, baseado no livro do francês Martin Page e com adaptação de Fernando Bonassi, teve a ilustre presença de Page na noite de estréia. "Martin veio especialmente para ver nossa montagem. Disse que identificou algumas cenas com o livro e outras não. Como ele não fala português, foi sacando. No final, falou que gostou", comentou a atriz.
Leia a seguir a íntegra do bate-papo que contou com a participação de 855 internautas. (03:11:56) Marcelo Tas: alo turminha, ja vamos comecar.....(03:13:35) Paula Picarelli: Obrigada, Marcelo.(03:15:32) Paula Picarelli: A peça "Como Me Tornei Um Estúpido" é baseada no livro do escritor francês Martin Page. Ele esteve aqui para assistir e curtiu. Ele disse que identificou algumas cenas com o livro e outras não. Como ele não fala português, foi sacando. Disse que gostou.(03:15:24) Marcelo Tas: Você já conseguiu o sonho de muitas atrizes paulistasde teatro, que apesar do talento não conseguem bons papéis na TV. Inclusive o deapresentadora de programa. Conte um pouco sobre suas tentativas de passar numteste de elenco na TV Globo.(03:18:40) Paula Picarelli: Eu fiz há muitos anos, em 2000, uma participação no programa "Sandy e Junior"; depois fiz um teste para uma novela das seis. Depois eles me chamaram para fazer um teste para a novela das oito. Tudo começou quando eu estava com um espetáculo, que era de encerramento do meu curso da ECA, isso em 1999 e alguém da Globo foi e registrou. Dois anos depois eles me chamaram para um teste para essa novela das seis, mas não deu certo. Mais tarde, ainda por causa do registro desse espetáculo, me chamaram direto para o personagem da novela das oito, "Mulheres Apaixonadas". Testes são o carma dos atores. Eles dão o texto, você tem que estudar e depois temos que apresentar.(03:18:31) Marcelo Tas: Vamos lembrar os internautas da quebra de tabu na novela "Mulheres Apaixonadas", onde você interpretou uma das meninas do casal de lésbicas da novela. Foi o tempo todo uma coisa tranqüila ou vocês tiveram dúvida sobre o tom da interpretação e se o público ia aceitar?(03:20:03) Paula Picarelli: As personagens eram adolescentes na época. Era um risco, né? A gente vinha de um histórico de não aceitação de personagens homossexuais. Os diretores levaram com delicadeza, não queriam afrontar. Essas personagens abriram portas para outros casais em outras novelas. Elas estavam se descobrindo. Todo mundo foi descobrindo como levar. Mas todos sabíamos que a leveza era o caminho.(03:22:11) Paula Picarelli: Não tive nenhuma manifestação agressiva. Eu sentia alguns olhares na rua, mas nunca rolou nada. No final da novela, estava passeando em Copacabana, e um grupo de velhinhos me viu e começou a aplaudir. Lá eu vi que tínhamos conquistado. Ainda é um tema delicado, não é fácil para o público. Eu espero, no futuro, ver vilões homossexuais. A característica do personagem não é ser homossexual.(03:22:50) Paula Picarelli: Não rolaram debates. Eu desfilei na Parada Gay, lá no alto do carro, foi bem bacana. Ganhamos um prêmio de uma boate no Rio e também o Prêmio Qualidade Brasil, pela importância.(03:26:41) Adriana/UOL:
Paula Picarelli ao vivo no Bate-papo UOL (Crédito: Flavio Florido/UOL)(03:22:56) Marcelo Tas: Como você virou apresentadora do "Entrelinhas"?(03:23:53) Paula Picarelli: Esse programa, cada dia eu descubro um pouquinho mais. Não é pioneiro, já existiu há um tempo. Levou alguns anos para o projeto ser aprovado e a apresentadora seria a Leona Cavalli e ela desistiu pela demora. Abriram testes, a Leona me indicou e fui aprovada.(03:24:17) Paula Picarelli: Eu sempre li muito, mas não era uma pessoa de letras. Sou uma leitora comum, acabo conhecendo muita coisa nos programas.(03:25:23) Marcelo Tas: Apesar de ser uma moça das letras, os sites que visitatem a ver com visual e balada. Você é mais do visual ou da balada?(03:25:44) Paula Picarelli: O site Astronauta Mecânico (www.astronautamecanico.com) é de uma VJ amiga minha. É muito legal. Eu não sou muito de balada, gosto do visual mesmo. Nesse site tem o link para vários sites de outros VJs. Essa é uma área super nova, mas já tem uma galera fazendo isso.(03:27:02) escravo da Paula: como foi p vc sair de um sucesso de uma novela, na qual quebrou tabus, e agora alcançar novamente sucesso em um programa de tanta qualidade como o Entrelinhas?(03:31:23) Paula Picarelli: Escravo, está liberto, rs. Os dois foram desafios, usando uma palavra que é um clichê. Não sabíamos se o programa daria certo, e já estamos há dois anos no ar. A apresentação também, eu tenho que fazer um trabalho de pesquisa. Não é uma linguagem muito coloquial, agora eu estou relaxando. Apresentar é como um personagem. Acho mais difícil decorar, porque não é um diálogo. Tem as datas, os dados e tem que ficar relaxado. Falar poesia ou literatura também é bem difícil. Falar sozinha e para a câmera também é bem difícil, é estranho. Às vezes me imagino falando para a câmera, mas acho estranho porque é uma máquina que não me responde na hora.(03:28:02) keila_25SP: VOCÊ TEM ALGUM SONHO ?EM RELAÇÃO A TV QUE AINDA NÃO CONQUISTOU?(03:32:02) Paula Picarelli: Keila, fiz tão pouca coisa na televisão. Tem tanta coisa bacana rolando na TV, né? Mas não tem um personagem que gostaria de fazer.(03:28:19) adri: qual os quais os seu livros de cabeceira nesse momento?(03:33:17) Paula Picarelli: Adri, estou com o "Livro do Desassossego", que ainda vou demorar muito para ler. E tem o livro do Rodrigo Fresán, ele é escritor de livros infantis, mas você não sabe o que está acontecendo direito. É fantástico.(03:29:33) Beto: Paula, já vi alguns trabalhos da diretora Beth Lopes, gostaria de saber como é trabalhar com ela?(03:36:29) Paula Picarelli: Beto, conheci a Beth na faculdade, ela foi minha professora, fizemos dois espetáculos juntas. Quase dez anos depois, o mesmo grupo da faculdade--eu e mais três atores-- resolvemos fazer esse espetáculo. Trabalhar com a Beth é muito instigante. Ela traz muito material para construirmos os personagens, trazemos muitas referências e depois ela faz uma edição. Nós começamos a trabalhar com o texto do próprio livro, o Bonassi entrou depois e organizou o texto e foi inserindo mais coisas, ele foi muito generoso. Ensaiamos muito, desde de fevereiro.(03:32:24) Tchello: adorei ver vc no "Direções", domingo, com Eucir. Vai voltar para novelas, fazer minisséries?(03:37:55) Paula Picarelli: Tchello, esse é um programa da TV Cultura, que eles chamaram vários diretores de teatro para dirigir. Não tenho planos para a TV, estou já ensaiando outro projeto para o teatro e para fazer televisão você tem que se dedicar exclusivamente.(03:39:13) Adriana/UOL:
Paula Picarelli fala sobre seu novo espetáculo em cartaz em São Paulo (Crédito: Flavio Florido/UOL)(03:33:09) gabriel callou: Oi Paula! Você se acha inserida nesse grupo "estúpido" de pessoas que fazem de tudo para estar na sociedade de consumo? Vc acha que essas pessoas são felizes???(03:38:33) Paula Picarelli: Gabriel, eu nutri até pouco tempo a sensação de não estar inserida nessa sociedade, mas não tem como. Estou sim, mas tento dar uma freada.(03:40:35) Paula Picarelli: Quase tudo, na verdade, se você for parar para pensar você consome sem precisar. Principalmente na alimentação. Eu tento não comprar produtos industrializados. Eu compro muito na Zona Cerealista, que vende a granel. É mais barato e acho que mais saudável também. Claro que compro muita coisa industrializada. Já tem linhas de produtos de limpeza que são biodegradáveis, é complicado. Dá trabalho, mas vale a pena. Sou vegetariana, bebo muito pouco.(03:41:29) Paula Picarelli: O personagem principal da peça é descendente de birmaneses, o Martin Page colocou esse personagem exatamente por conta dessa ditadura.(03:42:49) Paula Picarelli: Voltando, é um consumo consciente. São os próprios produtores. Tem também os produtores que entregam cestas de produtos orgânicos na sua casa.(03:34:33) Charles: Paula você assiste novela? O que você acha das novelas brasileiras?(03:44:00) Paula Picarelli: Charles, eu gosto de novela! Não consigo assistir porque estava ensaiando à noite. Gosto das histórias de mocinhos e bandidos. Eu vi uma parte de "Paraíso Tropical", vi só uns pedaços. Ainda não vi a novela nova.(03:46:54) Adriana/UOL:
Paula Picarelli fala sobre "Como Me Tornei Estúpido", seu novo espetáculo (Crédito: Flavio Florido/UOL)(03:39:25) MIGUEL: VC VAI FAZER NOVELA OU CONTINUARÁ COMO APRESENTADORA ??(03:44:41) Paula Picarelli: Miguel, olha.. eu estou super feliz fazendo teatro e apresentando programa na TV Cultura. Se puder continuar assim por um tempo, vou ficar feliz.(03:41:42) Guilherme: o que motivou o grupo a montar uma peça baseada na obra do Martin Page ?(03:46:02) Paula Picarelli: Guilherme, estávamos procurando textos, vendo muito filme e quando chegou esse livro, nós quatro achamos que era esse. Ele fala de questões da nossa vida, é um jeito novo de falar sobre isso. É relevante, mas tem a comédia e a leveza. Foi o primeiro livro que o Martin Page publicou e foi lançado no Brasil pela Editora Rocco.(03:47:34) Paula Picarelli: A peça já foi montada em Paris, não sei em outros países.(03:45:34) camarada: ja que o consumismo toma conta da atual sociedade em que vivemos vc concorda que uma das maneiras que temos de transformar essa sociedade um tanto quanto hipocrita consciente ou nao e uma nova forma de governo?(03:50:12) Paula Picarelli: Camarada, nossa? O que seria uma nova forma de governo? Não é socialismo, não é o comunismo e o capitalismo já se mostrou ineficaz. Ultimamente estou pensando que um tsunami... as formas de revolução têm que ser da natureza mesmo. Mas acho que a sociedade civil, organizada, como o Movimento Sou da Paz, pode ser um caminho.(03:51:19) Paula Picarelli: Todo esse movimento de consumo consciente, reciclagem... são pequenas ações. O livro fala sobre isso. Ele é individualista, acho que temos que começar a pensar no outro e na natureza e tudo mais.(03:47:38) caca: A peça é ótima. Eu já assisti. Comentei com alguns amigos que moram fora de São Paulo e a pergunta é unânime: O grupo tem projeto de sair para fora de São Paulo com a peça?(03:51:43) Paula Picarelli: Caca, a gente tem desejos por enquanto. Não temos projetos. Mas queremos rodar muito.(03:48:57) Marcelo: quem é o figurinista da peça? parabéns muito bonito(03:52:33) Paula Picarelli: Marcelo, é o mesmo cara que faz o figurino, cenário e adereços: o Theodoro Cochrane, ele é ator e é a estréia dele com figurinos, cenários e adereços.(03:49:21) pqna: Paula, alguem já agradeceu pela personagem em mulheres apaixonadas? tenho certeza que não foi só comigo, mas acredito que vocês tenham ajudado mtas adolecentes a se entenderem, se aceitarem melhor, e perceberem que o amor (só por ser a alguem do mesmo sexo), deveria ser visto como algo errado, impuro, e sim, simplesmente como amor, e vocês fizeram isso muito bem. mais uma vez gostaria de agradecer pela ótima interpretação da personagem. :) p.s. você é linda.(03:53:45) Paula Picarelli: Pqna, muita gente. Já recebi muitos depoimentos desses, não só do próprio adolescente, mas também na relação com os pais. Facilita um pouco o diálogo em casa. Não é uma questão de opção sexual, ninguém opta por quem vai amar e sentir atração. Hoje é uma questão de direitos humanos.(03:52:09) Adriana/UOL:
Marcelo Tas entrevista a atriz e apresentadora Paula Picarelli (Crédito: Flavio Florido/UOL)(03:50:57) mack: eu também já assisti e achei ótima também. Até quando vai ficar em cartaz?(03:54:20) Paula Picarelli: Mack, a priori até 18 de novembro. Há possibilidade de extender.(03:52:33) marquinhos: se vc pudesse ser presidenta por dois dias o q vc faria para mudar o nosso brasil ...?(03:55:14) Paula Picarelli: Marquinhos, coitada de mim. Deve ser muito difícil ser presidente e lidar com tudo isso. A gente vê como eles envelhecem. Acho que o poder envelhece. Talvez tentasse escancarar tudo, abrir um pouco jogo. Mas também é difícil falar... A pressão deve ser enorme.(03:54:03) rafa: na sua opiniao oq nos torna estupidos atualmente?(03:56:22) Paula Picarelli: Rafa, tanta coisa, né? Principalmente a ignorância consciente de algumas coisas, como não estar nem aí para o que está acontecendo. É a pior coisa, como uma carta branca.(03:54:55) camarada: acho que, como disse Augusto Boal, todos somos atores até mesmo os atores a diferença é que esses sabem o porque fazem o que fazem. E vc, de que forma trabalha o teatro com ferramenta de transformação social?(03:57:42) Paula Picarelli: Camarada, acho que a obra em si já é a ferramenta. O meu papel é a escolha. A arte tem esse poder, ela já diz por si e cria fagulhas de transformação ali. É uma questão de fé e eu acredito nisso.(03:55:11) nando: O que fazer nos dias de hoje para incentivar a ida aos teatros?(03:58:41) Paula Picarelli: Nando, é uma questão de acesso. Há tanta procura em espetáculos abertos. Não existe mais um projeto de levar as pessoas ao teatro e assim criar um hábito. As políticas públicas podem ajudar muito.(03:55:36) rafael.lourenco: Paula, ainda espero assistir a sua peça. Mas você tem aproveitado as outras peças de São Paulo, oque tem visto???(04:00:40) Paula Picarelli: Rafael, estava ensaiando muito e não tive muito tempo de ir ao teatro. Eu vi uma peça, a "Fatria Amada Brasil", que é um espetáculo hip hop. Sei que tem coisas muito boas e não consegui ver ainda, como a Companhia São Jorge que está com um espetáculo de rua na Praça Roossevelt.(03:56:59) escravo da Paula: como é o seu relacionamento com as outras pessoas que trabalham a sua volta? vc é muito perfeccionista, tem personalidade forte ou é mais maleável?(04:01:37) Paula Picarelli: Escravo, acho que sou maleável. Mas acho que sou um pouco impressionável, sou um pouco dramática. Acho que essa característica não serve pra muita coisa, a não ser para ensaiar mais.(04:02:28) Paula Picarelli: Nessa formação é a primeira vez que trabalhamos juntos, os quatro. Mas já tínhamos trabalhado entre nós algumas vezes.(03:58:57) mack: Soube que o Viga tem lotado diariamente. Há possibilidade de mudar para outro local que comporte plateia maior?(04:02:52) Paula Picarelli: Mack, estamos abertos ao que for melhor. Mas a reserva tem funcionado bem. Nossa vontade é ficar lá por muito tempo.(03:59:08) CESÁRIO: O QUE VOCÊ PENSA DAS MUDANÇAS PROMOVIDAS NA TV CULTURA? ESTÁ MELHOR LÁ? PIOROU??(04:03:16) Paula Picarelli: Cesário, calma. Tem que dar um pouco de tempo para sentir, acho que está indo bem. Rola uma onda de otimismo muito forte, isso é superbom.(04:00:28) Mari: Paula, Parabéns pelo novo espetáculo! Assisti e todos os atores estão geniais! O elenco parecia estar bastante integrado. VC já se conheciam antes, certo?(04:03:30) Paula Picarelli: Mari, além de qualquer coisa somos super amigos.(04:04:23) Paula Picarelli: Obrigada.(04:04:34) Adriana/UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de Paula Picarelli e de todos os internautas. Até o próximo!

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