Com excesso de córneas, EUA fazem exportaçãoMário Sérgio LimaEm São PauloEnquanto diversos Estados brasileiros sofrem com as baixas taxas de captação de córneas e com a falta delas para transplantes, nos Estados Unidos os métodos de captação ativa do tecido são eficazes a ponto de os bancos de olhos do país suprirem a necessidade interna e ainda exportarem para interessados em outras nações. O procedimento, inédito no resto do mundo, ajuda países que não conseguem captar órgãos suficientemente.Dentre os órgãos e tecidos que podem ser transplantados de pacientes mortos, a córnea é aquele que tem a maior facilidade de ser captada. Isso porque, ao contrário dos outros órgãos, que devem ser retirados após a constatação da morte encefálica (estado em que há a perda definitiva e irreversível das funções cerebrais relacionadas com a existência consciente) a córnea pode em tese ser retirada de qualquer pessoa morta há até seis horas.Além disso, se bem acondicionada, ela consegue permanecer "transplantável" por até quase duas semanas. Sem contar que, por não ser um órgão vital, permite que o paciente possa aguardar mais na lista de espera. Todas essas características possibilitam a exportação, que não pode ser feita hoje com os outros órgãos.De acordo com o médico Elcio Sato, coordenador do departamento de transplantes de tecidos da sociedade médica Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a exportação de córneas também é procurada por pacientes brasileiros. "Quem tem dinheiro para ir aos Estados Unidos realizar o procedimento ou para importar as córneas pode buscar os bancos de olhos de lá", afirma.Contudo, quem estiver pensando em buscar a solução nos EUA, deve saber que a opção custará caro. Embora a doação da córnea seja gratuita, os custos totais da operação podem chegar a algo em torno de US$ 1,4 mil (cerca de R$ 2.700).Para o paciente que preferir importar a córnea, é necessário arcar com os custos do transporte do tecido para o Brasil. Quem decidir por essa opção pode, assim, "furar a fila de espera" pela córnea, já que a lista nacional refere-se apenas aos órgãos captados no próprio Brasil.Para o presidente da ONG Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote), Francisco Neto de Assis, pacientes do país não deveriam buscar nos bancos de olhos norte-americanos a solução para a falta de córneas."Deveríamos ter capacidade de levantar o número suficiente de córneas internamente", afirma. Segundo dados do Ministério da Saúde, até junho, a lista de espera por córneas em todo o Brasil tinha 26.793 pessoas.
SP caminha para a auto-suficiência em córneas
Da redação, em São Paulo
Recentes estudos apontaram a queda progressiva registrada nos últimos três anos em doações de órgãos e tecidos no Brasil, mas o trabalho de captação tem sido desenvolvido com sucesso relativo em alguns Estados. Uma prova disso é São Paulo, onde o transplante de córneas caminha para a auto-suficiência.De acordo com dados da Central de Transplantes do Estado, existem, hoje, exatas 2.255 pessoas na lista de espera pela córnea no Estado, sendo que neste ano, até início de outubro, já foram realizados 3.714 transplantes do tecido. Na última quinta-feira foi reaberto o banco de olhos do Tatuapé, um dos dois bancos de córneas da região metropolitana da capital paulista.O banco de olhos de Tatuapé trabalhava sob a coordenação de equipes de oftalmologia de Sorocaba, referência nacional no transplante de córneas. O lugar havia sido fechado este ano após denúncias do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) ao Ministério Público sobre coleta indiscriminada do tecido no banco de olhos de Sorocaba, o maior do país.Com isso, houve uma redução do ritmo de crescimento dos transplantes no Estado, que em mesmo período (janeiro a outubro) do ano passado havia registrado 4.175 intervenções do tipo."A denúncia atrapalhou, até porque muita gente depois passou a recusar autorização para a coleta de córneas", conta o médico Elcio Sato, coordenador do departamento de transplantes de tecidos da sociedade médica Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Segundo o responsável pela Central de Transplantes de São Paulo, Luiz Augusto Pereira, pouco antes do fechamento, São Paulo chegava na marca de apenas 120 pessoas na lista de espera para o transplante de córneas."Esperamos atender às mais de 2.200 pessoas da lista de espera em até quatro meses", conta. Se nenhum outro percalço ocorrer, a auto-suficiência completa seria possível em no máximo um ano.Captação ativaA busca ativa pela córnea em Sorocaba, tanto na conscientização das famílias quanto nas técnicas para obter o tecido, fizeram do banco de olhos local uma referência. Razão pela qual, em todo o Estado de São Paulo, foi adotada a mesma metodologia, com bons resultados. O índice de descartes de córnea em São Paulo, embora aparentemente alto (cerca de 50% do que é coletado não é utilizado, por diversos motivos, segundo dados da ABTO), é equivalente aos obtidos nos Estados Unidos, vanguarda mundial na busca por córneas.O país também é paradigma para São Paulo em relação ao seu banco de olhos. "Quando atingirmos a auto-suficiência, o caminho natural é o envio da córnea para outros Estados mais necessitados", explica Pereira.São Paulo conta com sete dos 34 bancos de olhos do País, sendo que até o fim do ano deve ser cadastrado mais um banco, o de Campinas. Mesmo não sendo a unidade da Federação com o melhor índice de captação (a campeã é o Distrito Federal), é o Estado onde mais se realizam transplantes de córnea no país: quase 50% dos procedimentos do tipo são realizados em São Paulo.Isso também faz com que pessoas de outros Estados se inscrevam na lista de transplante de córnea de São Paulo. "Cerca de 10% dos pacientes na nossa lista de espera são de outros Estados", atesta Luiz Pereira. Não é de se espantar. Em São Paulo, a espera média por uma córnea é de 5,2 meses, tempo que já chegou a ser de 3 a 4 anos.
Doação de órgãos no Brasil cai e vai na contramão de vizinhos
Da redação, em São Paulo
Enquanto quase todos os países da América Latina registram aumento do porcentual da população doadora de órgãos e tecidos, o Brasil vem sofrendo quedas progressivas já há três anos. Segundo dados levantados pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o País teve no primeiro semestre de 2007 uma média de doadores de 5,4 por milhão da população, menos do que o apontado no período em 2004 (7,6), 2005 (6,4) e 2006 (5,8), mas seguindo a tendência de redução.No mesmo período, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Uruguai saltou de 19,2 para 25,2 doadores por milhão, por exemplo, enquanto a Argentina, embora ainda com números mais modestos, atingiu índice de 11,9.Para reverter o quadro, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsável pela política de doação e transplante no país, anunciou no último mês que vai apostar na criação de equipes especiais treinadas para fazer a busca ativa por órgãos. Na prática, isso significa instalar nos hospitais um grupo especializado para identificar potenciais doadores, fazer o diagnóstico de morte cerebral, conseguir autorização dos familiares para a doação, retirar os órgãos e conservá-los para a realização dos transplantes.O modelo fez da Espanha o país com os melhores índices mundiais na captação de transplantes de órgãos e é apontado como o responsável pelo avanço nos números dos países latino-americanos."A única coisa que faltava no Brasil era essa busca ativa com equipes mais bem qualificadas. Esse é o trabalho que estamos realizando", afirma o coordenador do SNT, Abrahão Salomão Filho, que faz questão de ressaltar que, apesar da redução, o país é um dos três maiores do mundo em números absolutos de transplantes realizados.Embora em vários Estados e hospitais já fossem realizadas essas buscas ativas, o trabalho nem sempre era feito com qualidade. "Na Bahia, por exemplo, era uma catástrofe. Em Santa Catarina temos índices ótimos, pois se investiu nisso. Não há razão para não dar certo", completa Salomão Filho.Dificuldades médicasPara o presidente da ONG Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote), Francisco Neto de Assis, a maior dificuldade para a reversão do quadro de queda nas doações está justamente na conscientização e capacitação da classe médica. "Muito hospital tem grupo de busca de órgão, mas é só formalidade, não funciona na prática. Os médicos não são pagos para fazer isso e por vezes nem sabem como fazer essa abordagem da família para conseguir autorização", afirma Assis.A falta desse trabalho faz com que 50% do órgãos que poderiam ser aproveitados para doação sejam perdidos, uma parte devido à não autorização da doação por parte das famílias. "Mas, ao menos, não vem aumentando essa rejeição", aponta a presidente da ABTO, Maria Cristina Ribeiro de Castro.
SP caminha para a auto-suficiência em córneas
Da redação, em São Paulo
Recentes estudos apontaram a queda progressiva registrada nos últimos três anos em doações de órgãos e tecidos no Brasil, mas o trabalho de captação tem sido desenvolvido com sucesso relativo em alguns Estados. Uma prova disso é São Paulo, onde o transplante de córneas caminha para a auto-suficiência.De acordo com dados da Central de Transplantes do Estado, existem, hoje, exatas 2.255 pessoas na lista de espera pela córnea no Estado, sendo que neste ano, até início de outubro, já foram realizados 3.714 transplantes do tecido. Na última quinta-feira foi reaberto o banco de olhos do Tatuapé, um dos dois bancos de córneas da região metropolitana da capital paulista.O banco de olhos de Tatuapé trabalhava sob a coordenação de equipes de oftalmologia de Sorocaba, referência nacional no transplante de córneas. O lugar havia sido fechado este ano após denúncias do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) ao Ministério Público sobre coleta indiscriminada do tecido no banco de olhos de Sorocaba, o maior do país.Com isso, houve uma redução do ritmo de crescimento dos transplantes no Estado, que em mesmo período (janeiro a outubro) do ano passado havia registrado 4.175 intervenções do tipo."A denúncia atrapalhou, até porque muita gente depois passou a recusar autorização para a coleta de córneas", conta o médico Elcio Sato, coordenador do departamento de transplantes de tecidos da sociedade médica Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Segundo o responsável pela Central de Transplantes de São Paulo, Luiz Augusto Pereira, pouco antes do fechamento, São Paulo chegava na marca de apenas 120 pessoas na lista de espera para o transplante de córneas."Esperamos atender às mais de 2.200 pessoas da lista de espera em até quatro meses", conta. Se nenhum outro percalço ocorrer, a auto-suficiência completa seria possível em no máximo um ano.Captação ativaA busca ativa pela córnea em Sorocaba, tanto na conscientização das famílias quanto nas técnicas para obter o tecido, fizeram do banco de olhos local uma referência. Razão pela qual, em todo o Estado de São Paulo, foi adotada a mesma metodologia, com bons resultados. O índice de descartes de córnea em São Paulo, embora aparentemente alto (cerca de 50% do que é coletado não é utilizado, por diversos motivos, segundo dados da ABTO), é equivalente aos obtidos nos Estados Unidos, vanguarda mundial na busca por córneas.O país também é paradigma para São Paulo em relação ao seu banco de olhos. "Quando atingirmos a auto-suficiência, o caminho natural é o envio da córnea para outros Estados mais necessitados", explica Pereira.São Paulo conta com sete dos 34 bancos de olhos do País, sendo que até o fim do ano deve ser cadastrado mais um banco, o de Campinas. Mesmo não sendo a unidade da Federação com o melhor índice de captação (a campeã é o Distrito Federal), é o Estado onde mais se realizam transplantes de córnea no país: quase 50% dos procedimentos do tipo são realizados em São Paulo.Isso também faz com que pessoas de outros Estados se inscrevam na lista de transplante de córnea de São Paulo. "Cerca de 10% dos pacientes na nossa lista de espera são de outros Estados", atesta Luiz Pereira. Não é de se espantar. Em São Paulo, a espera média por uma córnea é de 5,2 meses, tempo que já chegou a ser de 3 a 4 anos.
Doação de órgãos no Brasil cai e vai na contramão de vizinhos
Da redação, em São Paulo
Enquanto quase todos os países da América Latina registram aumento do porcentual da população doadora de órgãos e tecidos, o Brasil vem sofrendo quedas progressivas já há três anos. Segundo dados levantados pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o País teve no primeiro semestre de 2007 uma média de doadores de 5,4 por milhão da população, menos do que o apontado no período em 2004 (7,6), 2005 (6,4) e 2006 (5,8), mas seguindo a tendência de redução.No mesmo período, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Uruguai saltou de 19,2 para 25,2 doadores por milhão, por exemplo, enquanto a Argentina, embora ainda com números mais modestos, atingiu índice de 11,9.Para reverter o quadro, o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), órgão ligado ao Ministério da Saúde responsável pela política de doação e transplante no país, anunciou no último mês que vai apostar na criação de equipes especiais treinadas para fazer a busca ativa por órgãos. Na prática, isso significa instalar nos hospitais um grupo especializado para identificar potenciais doadores, fazer o diagnóstico de morte cerebral, conseguir autorização dos familiares para a doação, retirar os órgãos e conservá-los para a realização dos transplantes.O modelo fez da Espanha o país com os melhores índices mundiais na captação de transplantes de órgãos e é apontado como o responsável pelo avanço nos números dos países latino-americanos."A única coisa que faltava no Brasil era essa busca ativa com equipes mais bem qualificadas. Esse é o trabalho que estamos realizando", afirma o coordenador do SNT, Abrahão Salomão Filho, que faz questão de ressaltar que, apesar da redução, o país é um dos três maiores do mundo em números absolutos de transplantes realizados.Embora em vários Estados e hospitais já fossem realizadas essas buscas ativas, o trabalho nem sempre era feito com qualidade. "Na Bahia, por exemplo, era uma catástrofe. Em Santa Catarina temos índices ótimos, pois se investiu nisso. Não há razão para não dar certo", completa Salomão Filho.Dificuldades médicasPara o presidente da ONG Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote), Francisco Neto de Assis, a maior dificuldade para a reversão do quadro de queda nas doações está justamente na conscientização e capacitação da classe médica. "Muito hospital tem grupo de busca de órgão, mas é só formalidade, não funciona na prática. Os médicos não são pagos para fazer isso e por vezes nem sabem como fazer essa abordagem da família para conseguir autorização", afirma Assis.A falta desse trabalho faz com que 50% do órgãos que poderiam ser aproveitados para doação sejam perdidos, uma parte devido à não autorização da doação por parte das famílias. "Mas, ao menos, não vem aumentando essa rejeição", aponta a presidente da ABTO, Maria Cristina Ribeiro de Castro.
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