segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Tropa de elite do Rio mata 38 pessoas e prende outras 45 em favelas

Tropa de elite do Rio mata 38 pessoas e prende outras 45 em favelas
da Folha Online
O Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio matou 38 pessoas e prendeu outras 45 em 57 operações em favelas neste ano até 15 de outubro. A proporção é de seis presos para cada cinco mortos, informa neste sábado reportagem da Folha (íntegra somente para assinantes do jornal ou do UOL).
Segundo dados obtidos com exclusividade pela Folha, o Bope foi responsável por 4% das 961 mortes de civis em suposto confronto coma polícia do Rio. O percentual não é tão superior às estatísticas dos demais 45 batalhões da região metropolitana (2,8%) que enfrentam menos riscos.
Os policiais do Bope atuam principalmente em confrontos em favelas quando a situação foge do controle da PM convencional. O batalhão também tem um grupo de 30 homens em unidade de intervenção tática, para resgate de reféns.
Para o antropólogo Roberto Kant, doutor por Harvard e professor da UFF (Universidade Federal Fluminense), o Bope deve agir em ações específicas que não podem ser transformadas em rotina policial. "Senão sai todo mundo dando tiro", disse o antropólogo à Folha.
A reportagem também informa que o número real de mortos pelo Bope é maior do que o registrado nas estatísticas oficiais, pois os criminosos costumam recolher corpos e armas antes da polícia, o que "minimiza a derrota moral", explicam os policiais.
Bope abandonará uniforme preto e terá mulheres em 2008
da Folha de S.Paulo, no Rio
O Bope abandonará um componente de sua mística, o uniforme preto, em nome da segurança. Outra mudança, também prevista para 2008, será a inclusão de mulheres na tropa.
Serão duas inovações radicais para a unidade, criada em 1978, e onde até hoje nenhuma mulher conseguiu completar o treinamento com os homens.
A farda negra, que rendeu fama ao Bope, "faz silhueta" em ações noturnas em favela, o que pode significar a morte para o soldado. Deve dar lugar à cor acinzentada, com "camuflado digital", semelhante à da Força Nacional de Segurança.
O comandante do Bope, tenente-coronel Pinheiro Neto, confirmou à Folha que há um estudo para escolher o melhor uniforme para a tropa.
Em ações do complexo do Alemão, o Bope chegou a usar o uniforme da Força Nacional e o Caveirão, mas como estratégia para confundir os criminosos.
O cabo PM Cyro, da área de instrução do Bope, explicou que à noite, após os olhos se acostumarem à escuridão, é possível identificar o vulto de preto. "É mais difícil perceber alguém com farda de camuflado digitalizado", comparou.
Só o Grupo de Resgate de Reféns continua com a cor escura. "O preto aumenta a dimensão do policial e aparenta maior número, o que é fator psicológico negativo para o oponente", disse Pinheiro Neto.
As primeiras mulheres da tropa de elite da PM do Rio devem entrar no segundo semestre de 2008. As voluntárias a atuar em operações táticas e especiais do batalhão passarão por treinamento rigoroso em um curso específico para elas.
Embora o currículo e as atividades sejam os mesmos dos homens, haverá adaptações na parte de esforço físico. "Houve mulheres que iniciaram o curso geral, mas nenhuma o concluiu", diz o comandante.
Em 2006, o delegado Marcos Ferreira, da Polícia Federal, fez considerações negativas sobre a presença de mulheres em unidades especiais.
"É bom ter [mulher] na equipe para ter alguém para cozinhar para a gente", afirmou ele a jornalistas, em tom meio sério meio de brincadeira. "Em outra ocasião, precisamos de uma fêmea para uma operação e não havia. A policial que foi não estava preparada", continuou.
Capitão Nascimento é fanfarrão, diz comandante do Bope
da Folha Online
O tenente-coronel Pinheiro Neto, 43, comandante do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio), afirmou em entrevista que vê aspectos positivos no filme "Tropa de Elite" e reconhece que é uma propaganda para a unidade. Só não perdoa o capitão Nascimento, protagonista do filme. "É um descompensado, um fanfarrão", disse em entrevista publicada na edição deste sábado da Folha (íntegra somente para assinantes do jornal ou do UOL).
Pinheiro Neto classificou o filme como uma "caricatura" do curso e dos batalhões convencionais. "Foi importante por discutir a relação hipócrita entre consumo de droga e financiamento da violência e mostrar que bandido é bandido. Mostra o lado ruim da PM, cruel e corrupto --que existe-- mas também o bom. A PM é a corporação que mais expurga os maus funcionários. Foi uma propaganda para o Bope? Posso dizer que sim."
Para ele, o Bope é "extremamente" eficiente. Ao ser questionado se o batalhão mata mais do que deveria, o comandante afirmou que os policiais usam "a força letal prevista em código, quando o oponente não se rende ou põe nossa vida ou a de terceiro em risco".
O comandante compara a unidade de intervenções táticas com a Swat, mas admite que faltam equipamentos modernos, como pequenas câmeras de infiltração e sensores de calor.
Ainda segundo ele, apesar de "uma série de coisas a serem melhoradas", o carro blindado da PM --conhecido como caveirão-- já evitou a morte de muitos policiais militares. "Não dá para abrir mão."

Nenhum comentário: