quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Mercado de CO2 reduz 70% do desmate







Mercado de CO2 reduz 70% do desmate
Estimativa de ONG sugere que devastação na Amazônia pode ser freada a um custo baixo com comércio de emissões
Estudo do Ipam calcula em US$ 10 por tonelada de carbono o custo da redução; mercado para carbono de floresta, porém, é incipiente
Fernando Donasci - Folha Imagem
Queimada em floresta derrubada para plantio de soja em MT
DA REDAÇÃO
Custa muito pouco reduzir 70% do desmatamento na Amazônia. Um novo cálculo feito por uma ONG, que será apresentado hoje em Brasília, estima que a maior parte da devastação -e das emissões de carbono dela decorrentes- pode ser contida a menos de US$ 10 por tonelada de carbono.Esse é o valor que deveria ser pago a produtores rurais em várias regiões do Norte do país para que deixar suas florestas em pé fosse mais lucrativo do que derrubá-las para dar lugar a pasto e lavoura.A conta, explique-se, leva em consideração um fato econômico ainda inexistente: um mercado de carbono no qual a redução do desmatamento pudesse valer créditos para países como o Brasil, que detêm florestas tropicais e que têm na destruição destas uma fonte importante de emissões dos gases que causam o aquecimento global (dois terços das emissões brasileiras vêm dessa fonte).Tal mercado, no entanto, não é um delírio de ambientalistas: uma coalizão de países tropicais deve colocar sua criação na mesa no mês que vem, numa reunião na Indonésia que começará a definir os rumos da proteção ao clima depois de 2012, quando expira o Protocolo de Kyoto. E o Banco Mundial lançou neste ano um fundo experimental para comercializar o carbono de florestas -baseado justamente na lógica de que, em algumas regiões, não desmatar faz muito mais sentido do ponto de vista econômico.O novo cálculo foi feito por pesquisadores do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e do Woods Hole Research Center, nos EUA. Ele integra o relatório "Três Estratégias Fundamentais para a Redução do Desmatamento", que será lançado hoje na Câmara dos Deputados."Nós calculamos o chamado custo de oportunidade, ou o quanto se deveria pagar para um proprietário em terra privada com aptidão agrícola para não desmatar, mais um fomento a povos da floresta para a proteção de terras indígenas com dignidade e boa qualidade de vida [para os índios]", afirmou Paulo Moutinho, diretor de Pesquisa do Ipam.O estudo econômico, do qual o Ipam prepara uma versão aprofundada, estabelece um teto para a chamada "redução factível" do desmatamento, ou seja, aquela que pode ser obtida sem prejuízo de atividades econômicas rentáveis."A curva de custo não é linear", diz Moutinho. "Para evitar emissões por fogo florestal e queimadas o custo é muito baixo. À medida que você adiciona nessa curva o custo de não formar pasto em áreas marginais, o custo é pequeno. Até que você entra numa parte onde o custo sobe exponencialmente, que é a região mais apta à soja, onde manter floresta por opção [econômica] seria burrice."Moutinho diz que o valor a ser pago é baixo -cerca de metade do preço da tonelada de carbono no mercado hoje-, o que tornaria o carbono de florestas uma opção atraente para países que tenham metas de redução a cumprir por Kyoto.

Nenhum comentário: